GANGLIOSIDOSE GM1 (Landing)

GANGLIOSIDOSE GM1 (Landing)


  • O que é

As gangliosidoses são doenças hereditárias do metabolismo, raras, do grupo das doenças lisossomais de sobrecarga. São causadas por mutações nos genes que codificam as enzimas envolvidas na via metabólica específica, provocando acumulação, em níveis tóxicos, de derivados lipídicos não degradados – os gangliosídeos. Integram assim o grupo das lipidoses. Os gangliosídeos são glicoesfingolípidos que incluem na sua constituição ácido siálico e que se encontram em grande quantidade nas células ganglionares do sistema nervoso central, constituindo até 6% dos lípidos de membrana da substância cinzenta. Visto que os gangliosídeos são continuamente sintetizados e degradados durante o desenvolvimento cerebral, quando as enzimas responsáveis pela sua degradação não funcionam corretamente, esta substância acumula-se nas células neuronais. A sua acumulação causa, então, destruição progressiva das células nervosas cerebrais e da medula espinhal. Para além da acumulação do material lipídico, pode também ocorrer, e de acordo com a enzima deficiente, interferência de outras vias metabólicas, com simultâneo acúmulo de outros compostos.

A gangliosidose GM1 é um tipo de gangliosidose causada pela redução da atividade da enzima β-galactosidase, que degrada o gangliosídeo GM1, interferindo com degradação de outros compostos lipídicos, oligossacáridos e glicosaminoglicanos.

  • Quem é afetado

As gangliosidoses são doenças genéticas, de transmissão autossómica recessiva, isto é, são necessárias duas mutações no mesmo gene para que a pessoa manifeste a doença. Na maioria dos casos, cada um dos progenitores é portador de uma mutação, o que confere um risco de 25% de transmissão da doença à descendência. A incidência da gangliosidade GM1 é variável, sendo cerca de 1:100.000 a 200.000 nascimentos. A gangliosidose GM1 é causada por variantes patogénicas no gene GLB1, que codifica a enzima β-galactosidase.

  • Sintomas

Existem 3 subtipos de gangliosidose GM1, de acordo com a idade de início dos sintomas (forma infantil, juvenil e adulta), apresentando um conjunto de sinais e sintomas comum, mas representando um espectro contínuo de gravidade. São sempre doenças crónicas, com sintomas clínicos de patologia neurodegenerativa mais ou menos progressiva. Os sintomas incluem alterações do neurodesenvolvimento, dismorfismos faciais, paralisia espástica, alterações visuais e auditivas, epilepsia, gengivas hipertróficas, organomegalia ou alterações esqueléticas. A gravidade está relacionada com o nível de atividade enzimática residual.

Forma infantil – Quadro clínico rapidamente progressivo, com início antes dos 6 meses, caracterizado por disfunção progressiva e rápida do sistema nervoso central com desenvolvimento de espasticidade e regressão do neurodesenvolvimento, diminuição da acuidade visual e auditiva, epilepsia e dificuldades alimentares. A mancha vermelho-cereja na retina é também característica. Pode ter manifestações pré-natais, como hidropsia fetal, restrição do crescimento intra-uterino e vacuolização placentar. Dada a acumulação de outros compostos, podem ainda apresentar dismorfismos faciais, como face impregnada e macroglossia, organomegalias, cardiomiopatia ou alterações esqueléticas. A morte geralmente ocorre pelos 2-3 anos.

Forma infantil tardia e juvenil – início pelos 1-3 anos ou 3-10 anos, respetivamente, de disfunção progressiva do sistema nervoso central com declínio cognitivo, motor e da fala. Pode ocorrer opacificação da córnea, organomegalias, cardiomiopatia ou alterações esqueléticas.

Forma adulta – início entre os 10 e os 30 anos de distonia generalizada, levando a instabilidade da marcha, perturbação da fala e sintomas extra-piramidais que podem incluir parkinsonismo. O declínio cognitivo é comum com a progressão da doença. Alterações esqueléticas ocorrem na maioria e a cardiomiopatia em alguns dos doentes.

  • Diagnóstico

O diagnóstico é baseado na história clínica, exame objetivo e avaliação laboratorial. Perante uma suspeita de gangliosidose GM1, o diagnóstico deve ser confirmado pela quantificação da β-galactosidase e caracterização mutacional com teste genético.
O diagnóstico pré-natal pode ser realizado através da quantificação de atividade enzimática ou teste genético por biópsia das vilosidades coriónicas ou amniocentese, se existir história familiar.

  • Tratamento

Não existe tratamento específico disponível que permita prevenir ou reduzir a progressão da doença. O tratamento dos doentes com gangliosidoses é sintomático e de suporte.

  • Prognóstico

O prognóstico depende do subtipo de gangliosidose, sendo muito grave nas formas infantis, com uma sobrevivência reduzida, e variável nas formas juvenis e adultas, com um espectro amplo de apresentações e velocidade de progressão.

  • Elaborado por:

Dra. Maria João Gaia
Interna de Formação Específica de Pediatria
Centro de Referência de Doenças Hereditárias do Metabolismo
Centro Hospitalar Universitário de São João

  • Referências:

rarediseases.info.nih.gov – LINK
www.orpha.net – LINK
www.ncbi.nlm.nih.gov – LINK
medlineplus.gov – LINK